hoje li o post da glicéria sobre o fogo de artifício.gostei da reflexão e recomendo que leiam...
remeteu-me também para uma outra reflexão, que está ligada ao facto de muito do que era privado deixou ou deixará de o ser. a alegria tem tendência a sair de casa, abraçar as ruas, beijar e partilhar desejos com pessoas totalmente estranhas... não é totalmente anormal, se a isto acrescentarmos os programas da sic e tvi, que se valorizaram por estar o mais perto possível da anulação do que é privado, do que é mais intimo: da ordem dos reality shows.
à noite, os bares saíram à rua, parece que tudo pode ali ser vivido: o bom e o mau... até as drogas mais usadas neste tipo de festas são exactamente aquelas que momentaneamente provocam uma sensação de felicidade, de que tudo vai estar magicamente bem... se não é pelo anestesiar de consumos, será pelo alienar anestesiado que parece provocar essa efémera felicidade. por isso glicéria, o fogo de artifício é a cereja no bolo , tornando mágica a noite onde qualquer desejo será concretizado.
("Desnudar os sentimentos das pessoas e vê-las reagir em “directo” é quase que
“novela” diária em nossas televisões. Vende mais o que é revelador da vida íntima, que
desvenda o véu do sentimento das pessoas: note-se os reality shows, criando assim a ilusão
de que se conhecem as “celebridades” pessoalmente e aparentemente aproximando os fãs.
Fantasiam-se vidas quase perfeitas e idealiza-se um conceito de sucesso a que apenas
alguns podem chegar. Hannah Arendt, uma filósofa alemã, dizia que “… a sociedade de
massas não destrói apenas a esfera pública e a esfera privada: priva ainda os homens não só
do seu lugar no mundo, mas também do seu lugar privado, no qual se sentiam outrora
resguardados contra o mundo e onde, de qualquer forma, até mesmo os que eram excluídos
do mundo podiam encontrar-lhe o substituto no calor do lar e na limitação da realidade da
vida em família” (1958:74)."-retirado da minha tese)