domingo, 9 de março de 2008


actualmente ando a ler sobre a medicalização dos problemas sociais, ou mais propriamente, do dia a dia. cada vez mais o medicamento aparece como solução para todo o tipo de problemas. tomar um comprimido quase que legitima que se tem um problema... por outro lado desresponsabiliza a pessoa de qualquer esforço para a solução.
deparei-me com o delicioso livro do professor Pio Abreu:
como tornar-se doente mental.
e não resisti em colocar aqui uma inquietante partezinha que inclui no meu "plano":

Pio Abreu, no sua polémica obra Como Tornar-se Doente Mental, na introdução faz uma distinção entre os verdadeiros doentes e aqueles que vão voluntariamente à procura do psiquiatra. Acerca dos segundos, ele levanta a dificuldade de não “encaixarem” em nenhuma das ditas doenças da DSM IV. Decerto o médico tem duas respostas, uma seria encaminhá-las para outros técnicos, mas isso iria tirar-lhe o prestígio, a outra seria “... tentar estabelecer um diagnóstico, mesmo sem fundamento e aplicar a respectiva terapêutica. O psiquiatra sente-se útil e o seu cliente fica agradecido e contente (embora o contentamento varie de acordo com os diagnósticos que estão mais na moda)” (Abreu; 2001: 12). Mais à frente o mesmo autor refere a questão da relação de poder que existe entre médico e doente, num jogo de expectativas de ambas as partes. Cada um cumpre o seu papel e espera que o outro também o faça.

3 comentários:

Melo disse...

Boa! Interessante este conceito: medicalização dos problemas sociais. A reter.

Glicéria Gil disse...

Do post ficou-me a seguinte questão/afirmação: Para cada problema várias soluções! Parece que o problema é saber qual o verdadeiro problema. Será assim ou estou a ver tudo nublado? Obrigada pela sugestão de leitura.
um abraço

marta disse...

isto ainda é também uma super agradável descoberta para mim e que vem da sociologia da saúde. é uma outra visão, que cada vez mais me faz sentido. Retirando o problema do social para o clínico é ao mesmo tempo retira-lo da esfera do debate público. sendo assim só os entendidos ou especialistas o podem conhecer... aconteceu com o alcoolismo, com a toxicodependência e tentou-se fazer isso à homossexualidade. desculpem se não me expliquei bem... ainda estou a aprender.